terça-feira, 15 de junho de 2010

AS KOISAS KOMELASSÃO —ORGULHO

Orgulho

Cada qual, em sua casa, tem
sempre algo a comemorar
.
Por Irênio de Faro

Sentou-se no sofá, cruzou as pernas com toda a femininidade possível e discou um número.
— Lili? — perguntou
— Ela mesma. Quem fala?
— Soneca!
— Tão cedo, meu amor? Deu pulga na cama?
— Melhor, minha filha! Tô com a alma em festa!
— Já sei, fez as pazes com o Beto!
— Que nada, isso é caso perdido, já me conformei!
— Por que, então, esse derretimento todo?
— Acordei cedo só pra dar parabéns pelo seu dia!
— Mas hoje não é meu aniversário, sua boba! — corrigiu Lili.
— Quem falou em aniversário? Os parabéns são por seu dia, melhor, por nosso dia!
— Quer parar de fazer suspense, boneca? A menina aqui detesta essas coisas!
— Tá bem, sua danada! Parabéns pelo vinte e oito de junho, nosso dia!
— Pirou? Que que tem vinte e oito de junho, com as calças?
—Precisa ler jornal! — explicou Soneca. — O prefeito Celso Pitta, da cidade de São Paulo, aprovou ontem, oito de janeiro de noventa e nove, um projeto de lei apresentado pelo vereador Vicente Viscome, instituindo o Dia do Orgulho Gay, determinando que a data passe a ser comemorada, todos os anos, exatamente no dia vinte e oito de junho. Manja agora?
— Ainda bem que alguém ouviu nossas preces! — disse Lili com alegria.
Elsônio Ribeiro Maróstico — a Soneca — e Luís Carlos Galícia Refuggo — a Lili —, unha e carne, fazia tempo que eram amigos se bem que, vez por outra, se desentendessem, quando um guapo mancebo calhava de ser disputado pelos dois, melhor falando, pelas duas, como faziam questão de destacar. Aí, o tempo fechava e as meninas deixavam de lado suas juras de amizade eterna e partiam para o desforço físico, mordendo-se mutuamente, e puxando os cabelos uma da outra, entre gritinhos histéricos e sonoros palavrões.
— Sabe o que mais me agradou em tudo isso? O nome! Dia do Orgulho Gay, não é o máximo? — tornou Soneca.
— Um doce!
¬— A justificativa do vereador Viscome foi a de que a comunidade gay da cidade de São Paulo precisava de um dia para comemorar o desenvolvimento dos movimentos GLS. A boneca sabe o que é GLS, não sabe?
— Gays, Lésbicas e Simpatizantes! — respondeu Lili mais que rápido. — E teve muita razão esse tal de Visconde ...
— Viscome! — corrigiu Soneca.
— Vá lá, Viscome! Afinal a gente tem lutado muito, e se as conquistas ainda não são completas, já é possível comemorar alguma coisa! Nosso movimento não se restringe aos meios artísticos, como muita gente pensa, já ganhou espaço em setores os mais diversos como os científicos, administrativos e técnicos. É mole?
— Isso mesmo, belezoca!
— Mas por que escolherem o dia vinte e oito de junho, meu amor?
— Muito simples! É que nesse dia, em noventa e sete, a moçada realizou a Primeira Passeata Gay de São Paulo, nada mais justo que firmar a data como Dia do Orgulho Gay!

— Muito bem pensado, mas talvez a dondoca tenha se esquecido que foi também nesse dia que foi lançado, só que em noventa e seis, o primeiro jornal paulistano destinado à essa nossa comunidade, o World G News, com nome em inglês e tudo!
— Não é que me esqueci mesmo? É de tanto queijo que ando comendo, menina!
— Sua boba! Devia era estar comendo outras coisas, dão mais futuro!
— Vou desligar! — disse Soneca. — O Flavinho ficou de me procurar logo cedo, para a gente pegar uma piscina, e não posso perder a chance de nadar ao lado daquele pedação de homem!
— Bom proveito, boneca, se sobrar um pouco mande pra mim!
— Aqui pra você! — Soneca faz um gesto obsceno que, logicamente, não teria sido percebido pela Lili, mas o que valia era a intenção.
Foi até o espelho, olhou-se de alto abaixo:
— Dia do Orgulho Gay! Muito bem pensado!

— fim —

(Extraído do livro ‘Fábulas Modernas’, do jornalista Irênio de Faro, em preparo). |

domingo, 13 de junho de 2010

AS KOISAS KOMELASSÃO

Orgulho
Cada qual, em sua casa, tem sempre algo a comemorar

Por Irênio de Faro

Sentou-se no sofá, cruzou as pernas com toda a femininidade possível e discou um número.
— Lili? — perguntou
— Ela mesma. Quem fala?
— Soneca!
— Tão cedo, meu amor? Deu pulga na cama?
— Melhor, minha filha! Tô com a alma em festa!
— Já sei, fez as pazes com o Beto!
— Que nada, isso é caso perdido, já me conformei!
— Por que, então, esse derretimento todo?
— Acordei cedo só pra dar parabéns pelo seu dia!
— Mas hoje não é meu aniversário, sua boba! — corrigiu Lili.
— Quem falou em aniversário? Os parabéns são por seu dia, melhor, por nosso dia!
— Quer parar de fazer suspense, boneca? A menina aqui detesta essas coisas!
— Tá bem, sua danada! Parabéns pelo vinte e oito de junho, nosso dia!
— Pirou? Que que tem vinte e oito de junho, com as calças?
— Precisa ler jornal! — explicou Soneca. — O prefeito Celso Pitta, da cidade de São Paulo, aprovou ontem, oito de janeiro de noventa e nove, um projeto de lei apresentado pelo vereador Vicente Viscome, instituindo o Dia do Orgulho Gay, determinando que a data passe a ser comemorada, todos os anos, exatamente no dia vinte e oito de junho. Manja agora?
— Ainda bem que alguém ouviu nossas preces! — disse Lili com alegria.
Elsônio Ribeiro Maróstico — a Soneca — e Luís Carlos Galícia Refuggo — a Lili —, unha e carne, fazia tempo que eram amigos se bem que, vez por outra, se desentendessem, quando um guapo mancebo calhava de ser disputado pelos dois, melhor falando, pelas duas, como faziam questão de destacar. Aí, o tempo fechava e as meninas deixavam de lado suas juras de amizade eterna e partiam para o desforço físico, mordendo-se mutuamente, e puxando os cabelos uma da outra, entre gritinhos histéricos e sonoros palavrões.
— Sabe o que mais me agradou em tudo isso? O nome! Dia do Orgulho Gay, não é o máximo? — tornou Soneca.
— Um doce!
¬— A justificativa do vereador Viscome foi a de que a comunidade gay da cidade de São Paulo precisava de um dia para comemorar o desenvolvimento dos movimentos GLS. A boneca sabe o que é GLS, não sabe?
— Gays, Lésbicas e Simpatizantes! — respondeu Lili mais que rápido. — E teve muita razão esse tal de Visconde ...
— Viscome! — corrigiu Soneca.
— Vá lá, Viscome! Afinal a gente tem lutado muito, e se as conquistas ainda não são completas, já é possível comemorar alguma coisa! Nosso movimento não se restringe aos meios artísticos, como muita gente pensa, já ganhou espaço em setores os mais diversos como os científicos, administrativos e técnicos. É mole?
— Isso mesmo, belezoca!
— Mas por que escolheram o dia vinte e oito de junho, meu amor?
— Muito simples! É que nesse dia, em noventa e sete, a moçada realizou a Primeira Passeata Gay de São Paulo, nada mais justo que firmar a data como Dia do Orgulho Gay

— Muito bem pensado, mas talvez a dondoca tenha se esquecido que foi também nesse dia que foi lançado, só que em noventa e seis, o primeiro jornal paulistano destinado à essa nossa comunidade, o World G News, com nome em inglês e tudo!
— Não é que me esqueci mesmo? É de tanto queijo que ando comendo, menina!
— Sua boba! Devia era estar comendo outras coisas, dão mais futuro!
— Vou desligar! — disse Soneca. — O Flavinho ficou de me procurar logo cedo, para a gente pegar uma piscina, e não posso perder a chance de nadar ao lado daquele pedação de homem!
— Bom proveito, boneca, se sobrar um pouco mande pra mim!
— Aqui pra você! — Soneca faz um gesto obsceno que, logicamente, não teria sido percebido pela Lili, mas o que valia era a intenção.
Foi até o espelho, olhou-se de alto abaixo:
— Dia do Orgulho Gay! Muito bem pensado!

FIM
(Extraido do livro ‘Fábulas Modernas’, de Irênio de Faro. Em preparo).
AS KOISAS KOMELASSÃO

Orgulho
Cada qual, em sua casa, tem sempre algo a comemorar

Por Irênio de Faro

Sentou-se no sofá, cruzou as pernas com toda a femininidade possível e discou um número.
— Lili? — perguntou
— Ela mesma. Quem fala?
— Soneca!
— Tão cedo, meu amor? Deu pulga na cama?
— Melhor, minha filha! Tô com a alma em festa!
— Já sei, fez as pazes com o Beto!
— Que nada, isso é caso perdido, já me conformei!
— Por que, então, esse derretimento todo?
— Acordei cedo só pra dar parabéns pelo seu dia!
— Mas hoje não é meu aniversário, sua boba! — corrigiu Lili.
— Quem falou em aniversário? Os parabéns são por seu dia, melhor, por nosso dia!
— Quer parar de fazer suspense, boneca? A menina aqui detesta essas coisas!
— Tá bem, sua danada! Parabéns pelo vinte e oito de junho, nosso dia!
— Pirou? Que que tem vinte e oito de junho, com as calças?
— Precisa ler jornal! — explicou Soneca. — O prefeito Celso Pitta, da cidade de São Paulo, aprovou ontem, oito de janeiro de noventa e nove, um projeto de lei apresentado pelo vereador Vicente Viscome, instituindo o Dia do Orgulho Gay, determinando que a data passe a ser comemorada, todos os anos, exatamente no dia vinte e oito de junho. Manja agora?
— Ainda bem que alguém ouviu nossas preces! — disse Lili com alegria.
Elsônio Ribeiro Maróstico — a Soneca — e Luís Carlos Galícia Refuggo — a Lili —, unha e carne, fazia tempo que eram amigos se bem que, vez por outra, se desentendessem, quando um guapo mancebo calhava de ser disputado pelos dois, melhor falando, pelas duas, como faziam questão de destacar. Aí, o tempo fechava e as meninas deixavam de lado suas juras de amizade eterna e partiam para o desforço físico, mordendo-se mutuamente, e puxando os cabelos uma da outra, entre gritinhos histéricos e sonoros palavrões.
— Sabe o que mais me agradou em tudo isso? O nome! Dia do Orgulho Gay, não é o máximo? — tornou Soneca.
— Um doce!
¬— A justificativa do vereador Viscome foi a de que a comunidade gay da cidade de São Paulo precisava de um dia para comemorar o desenvolvimento dos movimentos GLS. A boneca sabe o que é GLS, não sabe?
— Gays, Lésbicas e Simpatizantes! — respondeu Lili mais que rápido. — E teve muita razão esse tal de Visconde ...
— Viscome! — corrigiu Soneca.
— Vá lá, Viscome! Afinal a gente tem lutado muito, e se as conquistas ainda não são completas, já é possível comemorar alguma coisa! Nosso movimento não se restringe aos meios artísticos, como muita gente pensa, já ganhou espaço em setores os mais diversos como os científicos, administrativos e técnicos. É mole?
— Isso mesmo, belezoca!
— Mas por que escolheram o dia vinte e oito de junho, meu amor?
— Muito simples! É que nesse dia, em noventa e sete, a moçada realizou a Primeira Passeata Gay de São Paulo, nada mais justo que firmar a data como Dia do Orgulho Gay

— Muito bem pensado, mas talvez a dondoca tenha se esquecido que foi também nesse dia que foi lançado, só que em noventa e seis, o primeiro jornal paulistano destinado à essa nossa comunidade, o World G News, com nome em inglês e tudo!
— Não é que me esqueci mesmo? É de tanto queijo que ando comendo, menina!
— Sua boba! Devia era estar comendo outras coisas, dão mais futuro!
— Vou desligar! — disse Soneca. — O Flavinho ficou de me procurar logo cedo, para a gente pegar uma piscina, e não posso perder a chance de nadar ao lado daquele pedação de homem!
— Bom proveito, boneca, se sobrar um pouco mande pra mim!
— Aqui pra você! — Soneca faz um gesto obsceno que, logicamente, não teria sido percebido pela Lili, mas o que valia era a intenção.
Foi até o espelho, olhou-se de alto abaixo:
— Dia do Orgulho Gay! Muito bem pensado!

FIM
(Extraido do livro ‘Fábulas Modernas’, de Irênio de Faro. Em preparo).

quinta-feira, 10 de junho de 2010

AS KOISAS KOMELASSÃO— Ambição Inconstiente


Ambição Inconsciente

O pior cego é aquele que não quer ver.

Por Irênio de Faro

Sebastião Alfredo, o Sebá, sempre quis ser um grande astro de futebol mas talvez por jogar num time de várzea, na cidade de Feira de Santana, Bahía, parecia fadado a terminar sua carreira exatamente naquilo: um jogador de time de várzea.
O atleta, contudo, era otimista, não perdia a fé num futuro melhor.
— Vocês ainda vão me ver na seleção, lá nas estranjas, fazendo gols adoidado, com mais fama que esse tal de Ronaldinho, que não vejo nada nele, é igual a mim! — dizia aos amigos, entre um copo e outro de uma cerveja estupidamente gelada. — Quem viver, verá!
Os companheiros achavam graça mas preferiam não ridicularizar o jogador, comentavam que sim, que ainda veriam e ouviriam os locutores de TV tecendo-lhe os maiores elogios. Afinal, tratava-se de um bom amigo, bom no campo e fora dele, uma excelente companhia para uma rodada de umas tantas louras suadas, em meio aos salgadinhos que apenas a dona Miquelina, mulher do dono do bar, sabia fazer.
Jogar mal, não jogava, mas também não era um cracão. Era um grande oportunista, isso sim, sabia aproveitar muito bem quando os rapazes lhe passavam a pelota, de bandeja, mas não era de correr atrás da bola, de cavar jogada. Mas como futebol é assim mesmo — o que interessa é gol feito — Sebá terminava todos os campeonatos de várzea, como goleador.
Picolé, o técnico do Blue Star — nome tão sofisticado e americanizado para um timezinho sem importância — conhecia os méritos e defeitos do atleta e atribuía sua fama de artilheiro mais à fraqueza dos adversários, que a seu valor pessoal. Tivessem melhores oponentes e, o jovem jogador não passaria de um homem a mais em campo.
Só que Sebá não pensava assim. Com o ego inflado por ter sido o artilheiro durante três anos consecutivos, decidiu-se a voar mais alto e, sem perda de tempo, procurou contato com o Kadu, conhecido empresário que, certamente, o levaria a jogar no Rio, ou em São Paulo, ou até mesmo no exterior.
— Deixe comigo! Levar você pro Flamengo vai ser moleza! — exclamou Kadu ao ser consultado — Quantos gols você fez este ano?
— Vinte e sete!
— Considere-se já vestindo a camisa do Mengão!
Animado, Sebá convidou seu técnico para uma cervejinha:
— Está tudo certo, acho que só falta mesmo assinar o contrato!
Picolé ouviu atentamente e deu sua opinião:
— Não me leve a mal, meu caro Sebá, sabe como gosto de você, mas está me parecendo uma decisão precipitada, esse negócio de ir jogar num timaço do Rio!
— Precipitada? Por que?
Picolé precisava de bastante tato para não ofender o amigo:
— Olhe aqui, rapaz, você está num time de várzea, numa cidade do interior, onde a maioria dos jogadores adversários são pernas-de-pau, não passam disso! Lógico, você é habilidoso, não sou louco em negar, mas o pessoal do outro lado, seja de que time for, é muito fraco, daí você se destacar do jeito como faz gols. Mas, francamente, ir pro Flamengo, e ter de enfrentar um Vasco ou um Botafogo, aí é dose, Sebá, eu não aprovo sua idéia!
O atleta tomou mais um gole da cerveja e, agastado, retrucou:
— Você está é com inveja, que nunca recebeu proposta pra sair deste buraco, aí bota defeito em mim, quer que eu desista. Mas não vou desistir, não. Já dei minha palavra, está tudo sacramentado, e quer saber de uma coisa? Já vi que você não é meu amigo, nem nada, que vá pro inferno, que não quero mais nada com você!
No final da semana, a despedida da cidade, com os amigos chorando na estação rodoviária, onde Sebá pegaria um ônibus para Salvador, e de lá, rumaria de avião para o Rio de Janeiro. No Rio, Sebá foi recebido em grande estilo: afinal, fora comprado como sendo um grande goleador, merecia toda aquele champanhe, todas aquelas entrevistas e salamaleques mil.
No início foram apenas treinos, até o atleta se ambientar com os companheiros mas quando chegou a hora do vamos ver, Picolé mostrou que não se enganara. A passagem do jogador Sebá pelo Flamengo foi um redondo fracasso. De artilheiro em Feira de Santana, o rapaz mostrou apenas ser um atleta medíocre, ainda mais, descansado, preguiçoso e acomodado. Um péssimo investimento.
— Lamento, rapaz, mas vamos ter de rescindir seu contrato! — disse o presidente do clube. — Afinal, contratamos um goleador e o que temos à mão? Um fiasco em todos os sentidos, um sujeito que não sabe passar uma bola, que tromba com a moçada a todo instante, que não acerta um único chute a gol, mesmo quando recebe um passe na medida! Francamente, seu Sebá, se você é goleador, eu sou Papai Noel!
Desiludido e humilhado, Sebá teve de amargar o prejuízo, e voltar para Feira de Santana. Já na terrinha, tentou fazer as pazes com Picolé, convidou o seu ex-técnico e ex-protetor para um chopinho.
— Você não quis me ouvir, quebrou a cara! — exclamou Picolé sem preâmbulos. — Tivesse me ouvido, tivesse pelo menos prestado atenção ao que acontecia à sua volta, não teria feito a burrada que fez, largando uma situação cômoda em troca de uma aventura desastrada! Bastava parar um pouquinho, desinchar esse seu ego tamanho-família e dar uma olhadinha, ver o que realmente se passava. O grande Sebá, o grande goleador de várzea naturalmente que precisaria de muito mais experiência para tentar a vida fora daqui!
— E agora, que que eu faço?
— Agora, é recolher os cacos desse seu fiasco, dar a volta por cima, partir para outra! Se não quiser mais jogar em time de várzea, procure o que fazer, porque em matéria de futebol você está acabado!
Picolé sabia que estava sendo duro, mas não tinha outro jeito:
— Tem mais, não volte a contar comigo, que não gosto de gente burra!


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segunda-feira, 7 de junho de 2010

AS KOISAS KOMELASSÃO — Inteligência Emocional

AS KOISAS KOMELASSÃO

Inteligência Emocional

Melhor se situa na vida quem sabe manipular
adequadamente as pessoas e as situações.
.
Por Irênio de Faro

Lá por volta de 1995, o psicólogo americano Daniel Coleman, ex-professor da Universidade de Harvard, lançou um livro muito interessante sobre Inteligência Emocional, popularizando o conceito do Quociente Emocional (QE), diferente do então conhecido Quociente de Inteligência (QI).
Para Coleman, nas lutas pela vida, o QE é muito mais importante que o QI, pois este último mede a inteligência de uma criatura enquanto que o primeiro avalia atributos especiais tais como o autoconhecimento, a capacidade de aprender, a motivação, a empatia e habilidade no relacionamento humano.
O autor americano adverte que uma falha qualquer em termos de inteligência emocional, à moda de um sistema imunológico enfraquecido pode tornar uma pessoa simplesmente vulnerável.
O tema, que antes se limitava às criaturas humanas, transplantou-se agora também para as empresas, a ponto de departamentos de Recursos Humanos de algumas grandes empresas tentarem hoje recrutar as pessoas certas, pesquisando-as segundo algumas indagações básicas tais como:
O candidato:
 Comunica-se bem?
 Relaciona-se bem?
 Demonstra habilidade para liderar?
 Aceita bem o trabalho em equipe?
 Administra bem suas atividades pessoais?
 Administra bem suas atividades profissionais?
 Quando indagado, dá respostas criativas?

Segundo ainda o psicólogo Daniel Coleman, as emoções dos empregados afetam sua produtividade, por isso, as empresas precisam aprender a lidar com os sentimentos invisíveis que todos nós conhecemos como ansiedade, raiva, ressentimento, medo e coisas assim. Ele defende a tese de que as companhias, a par de oferecerem treinamento técnico, deveriam também promover cursos para conhecimento e treinamento de elementos de Inteligência Emocional.
Um aspecto curioso na tese do autor é que esse tipo de treinamento tem de ser repetido, reciclado e avaliado periodicamente, a fim de se verificar se a pessoa de fato teria absorvido adequadamente os conhecimentos ministrados. Ocorre que, quase como regra geral, as organizações gastam fortunas com ensinamentos que findam se perdendo no vazio. Não adianta, por exemplo, um chefe fazer um curso de Relações Humanas Modernas e continuar autocrático e agressivo. Primeiro, é preciso reciclá-lo e, mais tarde, avaliá-lo, do contrário, o curso não terá exercido o mínimo efeito.
O treinamento proposto por Coleman, além da parte teórica, valoriza bastante a observação, quando chefes, gerentes, supervisores e os próprios funcionários avaliam-se uns aos outros, e em que são checados os conceitos da Inteligência Emocional:
 Fulano participa ativamente das reuniões, ou costuma permanecer calado?
 Quando, sob pressão, costuma entrar em pânico?
 Descontrola-se ao ser criticado?
 Quais os pontos fortes de Fulano?
 Quais seus pontos fracos?

Faz-nos lembrar as curiosas histórias de três homens:
Renato, Alberto e Augusto nasceram no mesmo bairro, no mesmo ano, na mesma cidade mas como sempre foram diferentes seguiram, na vida, caminhos diversos.
Renato foi sempre muito estudioso, muito aplicado, era sempre o primeiro da classe, o que tirava melhores notas.
— Pudera, o cara não desprega os olhos dos livros! — comentou um dia o Teófilo, mordido de inveja. Primeiro no ensino fundamental, no segundo grau, no vestibular, na faculdade de Administração de Empresas, no curso de mestrado, com louvor máximo pela tese defendida. Um gênio!
Talvez por isso, mostrava-se sempre com um temperamento arrogante, principalmente depois de derrotar vinte e oito candidatos ao cargo de assessor de uma diretoria daquela empresa de transporte aéreo.
— Encontrei finalmente o homem que o senhor desejava! — comunicou o gerente de pessoal ao superintendente da empresa. — Renato será, sem sombra de dúvidas, uma excelente aquisição, por sua competência.
Capaz, sim, mas de um relacionamento difícil. Com menos de dois meses de casa, trombou com seu diretor, bateu de frente, foi transferido para outra área e em seguida para mais outras.
— Pode ser um gênio mas ninguém suporta o cara!
Para Renato ninguém prestava:
— Um bando de incapazes, a começar pelo próprio superintendente, um sujeito que só faz cagadas, não sei como chegou lá!
Não perdoava os companheiros:
— Um dia destes largo esta merda de empresa, vou vender bananas na feira, não consigo trabalhar com gente tão burra!
Costumava deixar o diretor, a quem servia, com os nervos à flor da pele.
— Prefiro mil vezes um sujeito menos competente, porém mais acessível, com quem a gente possa dialogar! — confessava o diretor.
O valor de Renato mantinha-o no emprego, ele conseguia sobreviver a inúmeros cortes e enxugamentos, mas seu temperamento difícil e mordaz como que o impedia de subir na hierarquia da companhia. Sempre que surgia uma vaga, Renato era invariavelmente preterido, às vezes por alguém menos capaz . Quando a diretoria resolvia conceder aumentos espontâneos, ou bônus financeiros, de duas, uma: ou Renato nada recebia, ou ganhava o mínimo dos mínimos.
Como não poderia deixar de ser, tudo isso aumentava — e muito — o azedume de Renato, que se transformava, a pouco e pouco, numa criatura amarga e revoltada. Doze anos depois, ele assistia à ascensão de inúmeros companheiros, alguns até a níveis de diretorias, enquanto que ele, o maior, o mais capaz, o inexcedível, continuava como entrara, amargando eternamente a posição de um mero assessor de diretor.
— São todos uns invejosos, por isso me perseguem!
Alberto era do tipo nem muito ao mar, nem muito à terra. Procurava sempre se superar com um jeitinho especial de tratar as pessoas, de se relacionar, talvez porque tivesse carisma.
— Uma simpatia, esse tal de Alberto! — comentavam os professores e coleguinhas.
Estudava pouco, preferia um bate-bola com os amigos, mas prestava bastante atenção às aulas e o que aprendia era suficiente para ser aprovado, nunca repetira um ano sequer.
— O Albertinho sempre passa na rabada, é sempre um dos últimos, mas sempre passa de ano e é o que interessa! — dizia o pai.
— Só pode ser mágica! — comentava a mãe. — Nunca vi o Albertinho estudando, não sei como consegue aprender as coisas!
Quando do vestibular para Comunicação, foi salvo pelo gongo, entrou porque houve desistências e ele acabou sendo chamado. Apesar de pouco brilhante — conseguia notas apenas suficientes para passar — colou grau, o que provocou um comentário de um tio:
— Não vejo futuro pro Albertinho, senão o de marcar passo a vida inteira, há de morrer pastando. O cara não se esforça, só pensa em namorar, em se esfregar com as menininhas, ou no chope com os amigos!
Grande engano. Se Albertinho carecia de competência funcional, sabia como se relacionar, nunca se indispunha com ninguém, jamais batia de frente, era todo simpatia. Com pouco, e era guindado a funções de maior responsabilidade e, cinco anos mais tarde, passava a diretor de Comunicação Social, com um salário invejável e mordomias mil, capazes de causar inveja aos marajás do Governo Federal.
— Esse negócio de competência é papo furado, o que importa é o relacionamento, é o que o cara tem, o jeito como ele se relaciona.
Na companhia de companheiros de farra, dava aulas de vida, deitava cátedra:
— Querem aprender uma lição? Pois, aqui vai! Quando eu estou por cima, eu bato: quando estou por baixo eu apanho, só que sem nenhuma revolta, não guardo mágoas ou ressentimentos, ou aninho desejos de vingança, é esse o grande segredo. Outra coisa: nunca digam não a um superior, nunca entrem em conflito com um sujeito que está no topo da hierarquia. E se tiverem de dizer não, digam um não com jeito, mas ou menos assim, olhe aqui fulano, eu discordo de sua idéia, mas eu posso estar errado, não é mesmo? Ou: não concordo, mas se o senhor quer desse jeito, conte comigo! É assim que a gente desarma esses bolhas!
Augusto era totalmente diferente dos outros dois: simplesmente não gostava de estudar:
— Uma chatura!
Matava aulas com muita freqüência, preferia uma boa ‘pelada’ e não se arrrependia do que fazia:
— Mais vale um gosto que cem vinténs! — justificava, usando uma expressão antiga, aprendida do velho bisavô.
A mãe não se conformava:
— Você me mata de vergonha, Augustinho. O diretor da escola telefonou, reclamando que você anda matando aulas, para jogar futebol. Que que você vai ser na vida? Um ignorante? Um inútil? Um marginal?
As admoestações da mãe de nada adiantavam. Augustinho abandonou os estudos na terceira série do primeiro grau, e aos dezoito anos foi vender galinhas e ovos nas feiras, contratado por um barraqueiro português, um certo Arnaldo Tarimba Janela.
Trabalhador, interessado e habilidoso, e bastante econômico — sabia valorizar o dinheiro que ganhava — Augustinho logo conquistou a confiança de Arnaldo:
— Você é como um filho, o filho que nunca tive!
Cerca de oito meses depois, dominando inteiramente o negócio, o rapaz sugeriu ao barraqueiro novas formas de trabalhar:
— Precisamos prestar serviços, ‘seu’ Arnaldo!
— Como assim, se sou um simples barraqueiro, que ganha vida com o suor do rosto, vendendo galinhas e ovos?
— Manja a dona Amélia? — Então! Dona Amélia me confessou que vem à feira unicamente por causa de sua barraca, gosta dos seus produtos.
— E daí?
— Daí, que a gente pode aliviar a barra da dona Amélia, levando à sua casa o que ela habitualmente compra todas as semanas: três frangos e duas dúzias de ovos! A gente combina o dia da semana, de acordo com a conveniência dela, escolhe a melhor mercadoria que a gente tiver e, assim conquista em definitivo uma freguesa importante.
— Levar à casa da mulher, seu Augustinho, e aumentar a despesa? Nada disso!
— O segredo de hoje é a prestação de serviços, seu Arnaldo! Preste bons serviços e terá sempre fregueses cativos e de primeira ordem. De mais a mais, além de a despesa não ser tão grande assim, o senhor pode conseguir outros fregueses, nesse mesmo esquema e, se é certo que ganhará um pouco menos, de cada, acabará ganhando muito mais no volume! Quanto ao transporte, eu mesmo cuido de tudo, é só o senhor me emprestar a Kombi.
Dona Amélia gostou da idéia e, como a boa nova se espalhou, dentro de três meses havia um grande número de amélias e amélios no rol de entregas de Augustinho, aumentando bastante os lucros do barraqueiro.
— Tô surpreso com suas idéias, seu Augustinho! Onde o senhor aprendeu tudo isso? — perguntou certo dia o português.
— Com ninguém, seu Arnaldo, a gente já nasce assim!
As sugestões do rapaz não pararam aí:
— O senhor precisa saber comprar, seu Arnaldo!
— Lorotas, estou satisfeito com meu fornecedor, a Distribuidora Frangobom!
— Acontece que andei fuçando por aí, e a Galo Branco vende mais barato, dá prazos maiores e descontos especiais!
— Ai, Jesus, não me diga!
O barraqueiro autorizou Augustinho a fazer os necessários contatos e, em resultado, Arnaldo teve de aumentar o tamanho de sua banca de feira, contratando no ato mais dois empregados para dar conta do serviço
Augustinho continuou na vidinha de sempre, trabalhando muito e poupando. Economizava o máximo que podia, não era nenhum extravagante.
Certo dia, o barraqueiro deu-lhe a deixa de que precisava:
— Ando cansado, seu Augustinho, um dia destes vendo a barraca e volto pra terrinha, pra terminar os meus dias!
O rapaz pediu que o português fizesse seu preço, pagou uma parte em dinheiro e o restante, com um empréstimo contratado num banco, onde se relacionara particularmente bem com o gerente de uma das agências da cidade, freguês também antigo de Augustinho e que agora recebia em casa sua mercadorias.
A evolução empresarial de Augustinho foi surpreendente e meteórica. Em apenas dois anos ele controlava quatro barracas de feira, mais tarde adquiria por bom preço um mercadinho e, de repente, lá estava ele como proprietário de um supermercado, que depressa se multiplicou numa rede de hipermercados instalados não apenas no estado de São Paulo, mas também no Rio de Janeiro e Paraná, com um total de 220 lojas. Para o futuro, ele acenava com a instalação de uma rede na Argentina: Buenos Aires e Córdoba, para começar.
Renato, Alberto e Augusto nasceram no mesmo bairro, no mesmo ano, na mesma cidade mas como sempre foram diferentes seguiram, na vida, caminhos diversos.
Renato, o mais competente de todos — o cu-de-ferro, que vivia como que colado nos bancos escolares e nas cadeiras de casa, sempre a estudar — foi de fato um gênio, tecnicamente falando, mas falhou tremendamente quando chegou o instante de se relacionar na vida. Entrou como assessor de diretoria, numa grande empresa, continuou assim, por todo o sempre, amém! Auto-suficiente, muito cheio de si, com uma auto-estima exagerada, ninguém o suportava, ninguém lhe dava oportunidades.
Alberto, mais malandro, nunca foi brilhante nas escolas mas brilhou na vida profissional, galgando rapidamente vários lances na escada hierárquica da empresa onde trabalhava, até atingir o posto de diretor. Relacionava-se com extrema facilidade, sabia manejar as pessoas e as situações.
Por isso, evoluiu. Augusto sempre abominou essa coisa de escola, matava aulas para jogar pelada com os amigos, não passou da terceira série do primeiro grau. Inteligente e com grande queda para negócios, além do mais um empreendedor nato, foi quem mais subiu na vida. O tipo do homem que se fez sozinho, que usou a inteligência e a audácia para vencer. Sem estudos, discutia em pé de igualdade com seu contador, economista formado, com pós-graduação nos Estados Unidos e, todas as vezes que o País mergulhava em uma crise eonômico-financeira, ele era convocado, pelo Presidente da Republica, para dar opinião e orientação.
Renato, Alberto e Augusto nasceram no mesmo bairro, no mesmo ano, na mesma cidade mas como sempre foram diferentes seguiram, na vida, caminhos diversos.
— FIM —

sexta-feira, 4 de junho de 2010

AS KOISAS KOMELASSÃO — Seja Feita a Vossa Vontade


Seja Feita a Vossa Vontade
Amarra-se o burro à vontade do dono.

Por Irênio de Faro

Quando Joaquim Pinto de Chirra foi nomeado assessor-chefe de comunicação social de um órgão de classe empresarial, jamais imaginaria que teria de se envolver com uma série de estranhos acontecimentos.
Nomeado por indicação do irmão, presidente de um sindicato ligado à organização, Joaquim era tratado a pão-de-ló, mas queixava-se de nada ter o que fazer.
— O senhor me perdoe, doutor Clércio, mas estou pensando em pedir demissão, não é do meu feitio passar o dia inteiro lendo jornal, olhando para as paredes, ou conversando com o pessoal.
— Não faça isso, senhor Joaquim! — pediu o superintendente. — Resolvo seu caso agorinha mesmo!
— Como assim?
— É só ficar em casa, e pronto! Quando eu precisar do senhor, passo a mão no telefone e convoco-o! O senhor continuará recebendo normalmente seus proventos, é só passar por aqui no penúltimo dia útil de cada mês, não terá prejuízo algum!
— Mas ...
— Não me crie problemas, senhor Joaquim! Tenho seu irmão na mais alta conta, faço questão de manter o senhor na nossa folha de pagamento. E agora, se me permite um conselho de pai para filho, vá pra casa, fique numa boa e não me encha mais o saco!
Em parte, o jornalista compreendia o empenho do Dr. Clércio, em mantê-lo, pois seu irmão, na qualidade de dirigente máximo sindical era um dos que elegiam a diretoria da organização, daí a troca de favores.
Oito meses depois, a primeira convocação. Joaquim atendeu mais que depressa:
— Finalmente, vou ter o que fazer!
Clércio recebeu-o, afável como de hábito, mandou que se sentasse, pediu água gelada e cafezinho para os dois e, após um breve bate-papo, exibiu um contrato firmado com a Rádio Globo.
— Decidimos patrocinar uma série de doze programas diários para divulgação de nossa organização, senhor Joaquim e, por isso, mandamos redigir um contrato, com a Rádio Globo, coincidentemente já assinado por mim e pelo superintendente deles. Ocorre que, segundo nossos estatutos, este documento só terá validade jurídica se nele constar o seu de acordo, melhor falando, o de acordo do assessor-chefe de Comunicação Social.
Zeloso, competente e profissional na acepção plena do vocábulo, Joaquim apanhou o contrato e pôs-se a lê-lo, findo o que deu sua opinião.
— Bom, eu acho que ...
— O senhor não acha nada, senhor Joaquim, aqui quem acha alguma coisa sou eu! Por isso, pegue esta caneta, escreva as duas palavrinhas de acordo, no finzinho do documento, assine e date! — interrompeu Clércio, com a habitual autoridade.
— Mas, eu ...
— Assine, senhor Joaquim! — tornou Clércio, passando-lhe a caneta.
O jornalista refletiu rapidamente, chegou à conclusão de que nada havia de irregular no tal contrato, e que não lhe adviria nenhuma conseqüência danosa, caso concordasse com o mesmo. Discordava, isso sim, do horário em que o programa iria para o ar, aquilo mais lhe parecia uma operação de atirar dinheiro pela janela, mas como a grana não lhe pertencia, por que esquentar a cabeça?
Apanhou a caneta, sapecou as duas palavrinhas mágicas, assinou, e ainda recebeu um abraço e um afago do Clércio.
Passados quatorze meses, uma nova convocação.
— Venha depressa que é coisa urgente, doutor Clércio está agoniado! — disse-lhe a secretária ao telefone.
Dessa feita, o assunto era particular: o superintendente era presidente de uma pequena sociedade anônima, que produzia, num subúrbio, peças para a telefonia celular.
— É o seguinte, senhor Joaquim! Preciso convocar uma Assembléia Geral Ordinária da minha empresa, para o próximo dia vinte, e de acordo com a lei, quero que o senhor me publique o edital de convocação no Diário Oficial e num jornal de grande circulação, na Gazeta da Terra, mais especificamente!
O velho espírito profissional voltou a se manifestar e Joaquim argumentou:
— Faça-me o favor, doutor Clércio, a Gazeta da Terra ninguém lê, acionista algum vai ler sua convocação!
— Exatamente o que eu quero, senhor Joaquim! — exclamou o superintendente com um sorriso maroto.
O jornalista deu de ombros, apanhou as cópias do edital e encaminhou-as à publicação, tal e qual determinara Dr. Clércio.
Estava cumprida — e bem cumprida — , a tarefa de mais uma convocação.

FIM