segunda-feira, 7 de junho de 2010

AS KOISAS KOMELASSÃO — Inteligência Emocional

AS KOISAS KOMELASSÃO

Inteligência Emocional

Melhor se situa na vida quem sabe manipular
adequadamente as pessoas e as situações.
.
Por Irênio de Faro

Lá por volta de 1995, o psicólogo americano Daniel Coleman, ex-professor da Universidade de Harvard, lançou um livro muito interessante sobre Inteligência Emocional, popularizando o conceito do Quociente Emocional (QE), diferente do então conhecido Quociente de Inteligência (QI).
Para Coleman, nas lutas pela vida, o QE é muito mais importante que o QI, pois este último mede a inteligência de uma criatura enquanto que o primeiro avalia atributos especiais tais como o autoconhecimento, a capacidade de aprender, a motivação, a empatia e habilidade no relacionamento humano.
O autor americano adverte que uma falha qualquer em termos de inteligência emocional, à moda de um sistema imunológico enfraquecido pode tornar uma pessoa simplesmente vulnerável.
O tema, que antes se limitava às criaturas humanas, transplantou-se agora também para as empresas, a ponto de departamentos de Recursos Humanos de algumas grandes empresas tentarem hoje recrutar as pessoas certas, pesquisando-as segundo algumas indagações básicas tais como:
O candidato:
 Comunica-se bem?
 Relaciona-se bem?
 Demonstra habilidade para liderar?
 Aceita bem o trabalho em equipe?
 Administra bem suas atividades pessoais?
 Administra bem suas atividades profissionais?
 Quando indagado, dá respostas criativas?

Segundo ainda o psicólogo Daniel Coleman, as emoções dos empregados afetam sua produtividade, por isso, as empresas precisam aprender a lidar com os sentimentos invisíveis que todos nós conhecemos como ansiedade, raiva, ressentimento, medo e coisas assim. Ele defende a tese de que as companhias, a par de oferecerem treinamento técnico, deveriam também promover cursos para conhecimento e treinamento de elementos de Inteligência Emocional.
Um aspecto curioso na tese do autor é que esse tipo de treinamento tem de ser repetido, reciclado e avaliado periodicamente, a fim de se verificar se a pessoa de fato teria absorvido adequadamente os conhecimentos ministrados. Ocorre que, quase como regra geral, as organizações gastam fortunas com ensinamentos que findam se perdendo no vazio. Não adianta, por exemplo, um chefe fazer um curso de Relações Humanas Modernas e continuar autocrático e agressivo. Primeiro, é preciso reciclá-lo e, mais tarde, avaliá-lo, do contrário, o curso não terá exercido o mínimo efeito.
O treinamento proposto por Coleman, além da parte teórica, valoriza bastante a observação, quando chefes, gerentes, supervisores e os próprios funcionários avaliam-se uns aos outros, e em que são checados os conceitos da Inteligência Emocional:
 Fulano participa ativamente das reuniões, ou costuma permanecer calado?
 Quando, sob pressão, costuma entrar em pânico?
 Descontrola-se ao ser criticado?
 Quais os pontos fortes de Fulano?
 Quais seus pontos fracos?

Faz-nos lembrar as curiosas histórias de três homens:
Renato, Alberto e Augusto nasceram no mesmo bairro, no mesmo ano, na mesma cidade mas como sempre foram diferentes seguiram, na vida, caminhos diversos.
Renato foi sempre muito estudioso, muito aplicado, era sempre o primeiro da classe, o que tirava melhores notas.
— Pudera, o cara não desprega os olhos dos livros! — comentou um dia o Teófilo, mordido de inveja. Primeiro no ensino fundamental, no segundo grau, no vestibular, na faculdade de Administração de Empresas, no curso de mestrado, com louvor máximo pela tese defendida. Um gênio!
Talvez por isso, mostrava-se sempre com um temperamento arrogante, principalmente depois de derrotar vinte e oito candidatos ao cargo de assessor de uma diretoria daquela empresa de transporte aéreo.
— Encontrei finalmente o homem que o senhor desejava! — comunicou o gerente de pessoal ao superintendente da empresa. — Renato será, sem sombra de dúvidas, uma excelente aquisição, por sua competência.
Capaz, sim, mas de um relacionamento difícil. Com menos de dois meses de casa, trombou com seu diretor, bateu de frente, foi transferido para outra área e em seguida para mais outras.
— Pode ser um gênio mas ninguém suporta o cara!
Para Renato ninguém prestava:
— Um bando de incapazes, a começar pelo próprio superintendente, um sujeito que só faz cagadas, não sei como chegou lá!
Não perdoava os companheiros:
— Um dia destes largo esta merda de empresa, vou vender bananas na feira, não consigo trabalhar com gente tão burra!
Costumava deixar o diretor, a quem servia, com os nervos à flor da pele.
— Prefiro mil vezes um sujeito menos competente, porém mais acessível, com quem a gente possa dialogar! — confessava o diretor.
O valor de Renato mantinha-o no emprego, ele conseguia sobreviver a inúmeros cortes e enxugamentos, mas seu temperamento difícil e mordaz como que o impedia de subir na hierarquia da companhia. Sempre que surgia uma vaga, Renato era invariavelmente preterido, às vezes por alguém menos capaz . Quando a diretoria resolvia conceder aumentos espontâneos, ou bônus financeiros, de duas, uma: ou Renato nada recebia, ou ganhava o mínimo dos mínimos.
Como não poderia deixar de ser, tudo isso aumentava — e muito — o azedume de Renato, que se transformava, a pouco e pouco, numa criatura amarga e revoltada. Doze anos depois, ele assistia à ascensão de inúmeros companheiros, alguns até a níveis de diretorias, enquanto que ele, o maior, o mais capaz, o inexcedível, continuava como entrara, amargando eternamente a posição de um mero assessor de diretor.
— São todos uns invejosos, por isso me perseguem!
Alberto era do tipo nem muito ao mar, nem muito à terra. Procurava sempre se superar com um jeitinho especial de tratar as pessoas, de se relacionar, talvez porque tivesse carisma.
— Uma simpatia, esse tal de Alberto! — comentavam os professores e coleguinhas.
Estudava pouco, preferia um bate-bola com os amigos, mas prestava bastante atenção às aulas e o que aprendia era suficiente para ser aprovado, nunca repetira um ano sequer.
— O Albertinho sempre passa na rabada, é sempre um dos últimos, mas sempre passa de ano e é o que interessa! — dizia o pai.
— Só pode ser mágica! — comentava a mãe. — Nunca vi o Albertinho estudando, não sei como consegue aprender as coisas!
Quando do vestibular para Comunicação, foi salvo pelo gongo, entrou porque houve desistências e ele acabou sendo chamado. Apesar de pouco brilhante — conseguia notas apenas suficientes para passar — colou grau, o que provocou um comentário de um tio:
— Não vejo futuro pro Albertinho, senão o de marcar passo a vida inteira, há de morrer pastando. O cara não se esforça, só pensa em namorar, em se esfregar com as menininhas, ou no chope com os amigos!
Grande engano. Se Albertinho carecia de competência funcional, sabia como se relacionar, nunca se indispunha com ninguém, jamais batia de frente, era todo simpatia. Com pouco, e era guindado a funções de maior responsabilidade e, cinco anos mais tarde, passava a diretor de Comunicação Social, com um salário invejável e mordomias mil, capazes de causar inveja aos marajás do Governo Federal.
— Esse negócio de competência é papo furado, o que importa é o relacionamento, é o que o cara tem, o jeito como ele se relaciona.
Na companhia de companheiros de farra, dava aulas de vida, deitava cátedra:
— Querem aprender uma lição? Pois, aqui vai! Quando eu estou por cima, eu bato: quando estou por baixo eu apanho, só que sem nenhuma revolta, não guardo mágoas ou ressentimentos, ou aninho desejos de vingança, é esse o grande segredo. Outra coisa: nunca digam não a um superior, nunca entrem em conflito com um sujeito que está no topo da hierarquia. E se tiverem de dizer não, digam um não com jeito, mas ou menos assim, olhe aqui fulano, eu discordo de sua idéia, mas eu posso estar errado, não é mesmo? Ou: não concordo, mas se o senhor quer desse jeito, conte comigo! É assim que a gente desarma esses bolhas!
Augusto era totalmente diferente dos outros dois: simplesmente não gostava de estudar:
— Uma chatura!
Matava aulas com muita freqüência, preferia uma boa ‘pelada’ e não se arrrependia do que fazia:
— Mais vale um gosto que cem vinténs! — justificava, usando uma expressão antiga, aprendida do velho bisavô.
A mãe não se conformava:
— Você me mata de vergonha, Augustinho. O diretor da escola telefonou, reclamando que você anda matando aulas, para jogar futebol. Que que você vai ser na vida? Um ignorante? Um inútil? Um marginal?
As admoestações da mãe de nada adiantavam. Augustinho abandonou os estudos na terceira série do primeiro grau, e aos dezoito anos foi vender galinhas e ovos nas feiras, contratado por um barraqueiro português, um certo Arnaldo Tarimba Janela.
Trabalhador, interessado e habilidoso, e bastante econômico — sabia valorizar o dinheiro que ganhava — Augustinho logo conquistou a confiança de Arnaldo:
— Você é como um filho, o filho que nunca tive!
Cerca de oito meses depois, dominando inteiramente o negócio, o rapaz sugeriu ao barraqueiro novas formas de trabalhar:
— Precisamos prestar serviços, ‘seu’ Arnaldo!
— Como assim, se sou um simples barraqueiro, que ganha vida com o suor do rosto, vendendo galinhas e ovos?
— Manja a dona Amélia? — Então! Dona Amélia me confessou que vem à feira unicamente por causa de sua barraca, gosta dos seus produtos.
— E daí?
— Daí, que a gente pode aliviar a barra da dona Amélia, levando à sua casa o que ela habitualmente compra todas as semanas: três frangos e duas dúzias de ovos! A gente combina o dia da semana, de acordo com a conveniência dela, escolhe a melhor mercadoria que a gente tiver e, assim conquista em definitivo uma freguesa importante.
— Levar à casa da mulher, seu Augustinho, e aumentar a despesa? Nada disso!
— O segredo de hoje é a prestação de serviços, seu Arnaldo! Preste bons serviços e terá sempre fregueses cativos e de primeira ordem. De mais a mais, além de a despesa não ser tão grande assim, o senhor pode conseguir outros fregueses, nesse mesmo esquema e, se é certo que ganhará um pouco menos, de cada, acabará ganhando muito mais no volume! Quanto ao transporte, eu mesmo cuido de tudo, é só o senhor me emprestar a Kombi.
Dona Amélia gostou da idéia e, como a boa nova se espalhou, dentro de três meses havia um grande número de amélias e amélios no rol de entregas de Augustinho, aumentando bastante os lucros do barraqueiro.
— Tô surpreso com suas idéias, seu Augustinho! Onde o senhor aprendeu tudo isso? — perguntou certo dia o português.
— Com ninguém, seu Arnaldo, a gente já nasce assim!
As sugestões do rapaz não pararam aí:
— O senhor precisa saber comprar, seu Arnaldo!
— Lorotas, estou satisfeito com meu fornecedor, a Distribuidora Frangobom!
— Acontece que andei fuçando por aí, e a Galo Branco vende mais barato, dá prazos maiores e descontos especiais!
— Ai, Jesus, não me diga!
O barraqueiro autorizou Augustinho a fazer os necessários contatos e, em resultado, Arnaldo teve de aumentar o tamanho de sua banca de feira, contratando no ato mais dois empregados para dar conta do serviço
Augustinho continuou na vidinha de sempre, trabalhando muito e poupando. Economizava o máximo que podia, não era nenhum extravagante.
Certo dia, o barraqueiro deu-lhe a deixa de que precisava:
— Ando cansado, seu Augustinho, um dia destes vendo a barraca e volto pra terrinha, pra terminar os meus dias!
O rapaz pediu que o português fizesse seu preço, pagou uma parte em dinheiro e o restante, com um empréstimo contratado num banco, onde se relacionara particularmente bem com o gerente de uma das agências da cidade, freguês também antigo de Augustinho e que agora recebia em casa sua mercadorias.
A evolução empresarial de Augustinho foi surpreendente e meteórica. Em apenas dois anos ele controlava quatro barracas de feira, mais tarde adquiria por bom preço um mercadinho e, de repente, lá estava ele como proprietário de um supermercado, que depressa se multiplicou numa rede de hipermercados instalados não apenas no estado de São Paulo, mas também no Rio de Janeiro e Paraná, com um total de 220 lojas. Para o futuro, ele acenava com a instalação de uma rede na Argentina: Buenos Aires e Córdoba, para começar.
Renato, Alberto e Augusto nasceram no mesmo bairro, no mesmo ano, na mesma cidade mas como sempre foram diferentes seguiram, na vida, caminhos diversos.
Renato, o mais competente de todos — o cu-de-ferro, que vivia como que colado nos bancos escolares e nas cadeiras de casa, sempre a estudar — foi de fato um gênio, tecnicamente falando, mas falhou tremendamente quando chegou o instante de se relacionar na vida. Entrou como assessor de diretoria, numa grande empresa, continuou assim, por todo o sempre, amém! Auto-suficiente, muito cheio de si, com uma auto-estima exagerada, ninguém o suportava, ninguém lhe dava oportunidades.
Alberto, mais malandro, nunca foi brilhante nas escolas mas brilhou na vida profissional, galgando rapidamente vários lances na escada hierárquica da empresa onde trabalhava, até atingir o posto de diretor. Relacionava-se com extrema facilidade, sabia manejar as pessoas e as situações.
Por isso, evoluiu. Augusto sempre abominou essa coisa de escola, matava aulas para jogar pelada com os amigos, não passou da terceira série do primeiro grau. Inteligente e com grande queda para negócios, além do mais um empreendedor nato, foi quem mais subiu na vida. O tipo do homem que se fez sozinho, que usou a inteligência e a audácia para vencer. Sem estudos, discutia em pé de igualdade com seu contador, economista formado, com pós-graduação nos Estados Unidos e, todas as vezes que o País mergulhava em uma crise eonômico-financeira, ele era convocado, pelo Presidente da Republica, para dar opinião e orientação.
Renato, Alberto e Augusto nasceram no mesmo bairro, no mesmo ano, na mesma cidade mas como sempre foram diferentes seguiram, na vida, caminhos diversos.
— FIM —

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